quinta-feira, 22 de março de 2007

Fotos do encontro com o Ricardo Benevides

Ta aiiiiiiiiiiiiií o que o PC queria. As fotos de hoje.














Papo com Ricardo Benevides

Hoje rolou um papo com o professor Ricardo Benevides sobre sua tese de doutorado"Literaturas do Caminho".
Os alunos que participaram desse papo foram:
Filipe Cerolim, Helga Lira de Artiaga, Leila Carrilho, Fabio Resende, Victor Hugo, Camila Rodrigues, Maria Fernanda Schardong, Rafael Queiros, Mariana Pimenta, Felipe Hanower, Sheila Aguiar, Pedro Ivo, Carla Borchat, Luis Gustavo, Lucas Cabral, Dalmo Rocha, Maria Fernada, Martha Bacci, Marcia Jussara, Elenir Souza.

A entrevista completa logo estará no ar, com fotos e outras coisas.

terça-feira, 20 de março de 2007

Geração Beat: O "Estar" Em Movimento

"A chave de tudo foi o tédio"
-Hal Chase

A Geração Beat era um grupo de jovens intelectuais estadunidenses que, em meados dos anos 50, enfadados com a monotonia do pós-guerra e incomodados com o estilo de vida consumista que se instalara, criaram uma nova literatura, e por assim dizer um novo movimento. A motivação destes escritores era estar em conjunto, desfrutar de parceria nas viagens, tanto físicas quanto psicotrópicas. Pode-se dizer que esse prazer de estar entre amigos, essa espécie de prolongamento do sentimento colegial de fazer parte de uma turma, de estar para sempre entre grandes camaradas, foi a tônica do discurso literário, o leitmotiv de toda a Geração.


A literatura dos beats é sobre o laço de amizade entre homens, sobre a afetuosidade entre eles ou até sobre a tristeza da descoberta de que o amor e a paixão fenecem – semelhança a geração ultra-romântica do século XIX. Todo o resto – o zelo pela religião oriental, o flerte com o Existencialismo, a fascinação pelos sonhos, o radicalismo político, a paixão pelas drogas, a liberdade sexual – era meramente decoração de uma complexa rede de relacionamentos pessoais.

A palavra beat em si é sinônimo para batida ou compasso (seja musical ou cardíaco). Também significa ser vencido. O termo beat é gíria antiga, utilizada nas ruas entre pessoas de baixa renda, basicamente reafirmando a idéia de estar cansado e vencido (pela vida). A expressão também foi utilizada para designar uma negociação de tráfico que terminou mal, por exemplo, pagar por heroína e descobrir depois que era açúcar ou talco, é ser beat (vencido).

Discutindo o termo Geração Perdida, de Jean-Paul Sartre, diz a lenda que, em uma cafeteria em Times Square, Jack Kerouac e John Clellon Holmes procuravam uma definição para a falta de perspectiva que viam e sentiam ao seu redor. Foi quando Kerouac casualmente filosofou, "somos mesmo uma beat generation".

Alguns poetas se sentiam desconfortáveis com o modismo do termo e tentaram esvaziar o excesso de mítica criada. Gary Snyder, poeta e autor do livro Myths And Texts, falou certa vez, que não existia nenhuma Geração Beat, pois meia dúzia de pessoas não constitui uma geração. Aparentemente este também é o raciocínio de Hettie Cohen Jones, autora do livro How I Became Hettie Jones, ela deduziria que o termo beat generation era um nome mal empregado, já que toda a geração beat cabia em sua sala de estar, e ao seu entender, uma geração inteira não poderia caber em apenas uma sala.

Seria Allen Ginsberg quem mais se esforçaria a definir e projetar o termo beat e a consciência literária que ele sugere. Seu esforço promocional era direcionado a conseguir publicações em revistas de renome e status. Não somente para os seus trabalhos, como também para os dois amigos, cujo trabalho Ginsberg mais respeitava e admirava, Jack Kerouac e William Burroughs. Ginsberg porém, nem sempre foi tão obstinado quanto ao seus objetivos.

A geração beat se dividia em dois grupos. O primeiro era composto por Jack Kerouac, Allen Ginsberg, John Clellon Holmes, William Burroughs, Herbert Huncke, Lucien Carr, Hal Chase e Gregory Corso, que se conheceram em diferentes ocasiões durante o decurso do ano de 1943. No ano seguinte conheceram Neal Cassady, de passagem em Nova York vindo do oeste. Juntos e individualmente, criaram uma poesia urbana e uma forma ou estilo de escrever específico e à parte de qualquer outro estilo corrente. Alguns destes membros, inclusive Kerouac, se fixam em São Francisco, assim acabam atraindo poetas igualmente inconformados com a América que utilizava o boom industrial como um sedativo, enfatizando o maior interesse das massas em novas invenções de eletrodomésticos.

Neste segundo grupo estão poetas, escritores, artistas e intelectuais como Lawrence Ferlinghetti, Gary Snyder, Kenneth Rexroth, Norman Mailer, David Meltzer, George Herms, Wallace Berman, Bruce Conner, Philip Lamantia, Michael e Joanna McClure. Estes atingiram pintura e escultura, como também uma literatura abrangente. Pode-se deduzir que foi em São Francisco que o beat se tornou de fato um movimento.

Foi em São Francisco, no dia 7 de outubro de 1955, que um grupo de poetas desconhecidos montam um recital gratuito em uma galeria velha que ficava no bairro negro da cidade. Kerouac estava presente apenas como espectador e tratou de promover uma ‘vaquinha’ para a compra de algumas garrafas de vinho barato. Assim, tornou-se parte do programa a distribuição gratuita de vinho tanto para os artistas como para o público, que foi em torno de 150 pessoas.

Entre a leitura de "Howl" no recital e a publicação de On The Road, houve o famoso processo jurídico onde Lawrence Ferlinghetti, ao publicar o livro "Howl and Other Poems" de Allen Ginsberg, passou a ser acusado pelo governo de promover pornografia. O Senador Joseph McCarthy liderou uma cruzada contra atividades rotuladas anti-americanas. Porém, a justiça não só inocentou o poema, como o definiu "valioso conteúdo social". O mais importante foi a cobertura diária da imprensa no julgamento, que tornou os termos Beat, Beat Poet e Beat Generation repentinamente conhecidos por todo o país.

A literatura beat passa a ser ao mesmo tempo elogiada por alguns críticos, e criticada pelas associações literárias conservadoras. É neste contexto que nasce o termo beatnik, surgido no San Francisco Chronicle em uma coluna assinada por Herb Caen em abril de 1958. O sufixo ‘nik’, inspirado no satélite espacial russo Sputnik, sugere à palavra beat a idéia de algo subversivo, uma vez que russos e norte-americanos simbolizavam a antítese entre comunismo e capitalismo. Não demoraria muito e beat seria compreendido como um estilo de escrever, e beatnik um estilo de viver. Menos de dois meses depois de On The Road e ainda com a confusão em torno do julgamento, o termo passa a ser usado em anúncios da gravadora Atlantic para a venda de discos de jazz.

Com o excesso de publicidade em relação aos beats foi criado em São Francisco um circuito turístico, concentrando-se principalmente em North Beach, ponto dos beats originais. No local, jovens querendo ser ou se passando por beats, todos estereotipados com boinas, barbichas e costeletas largas, óculos escuros e tocando bongô enquanto ouvem jazz. O ponto perdeu o seu sentido e muitos dos autênticos beats voltaram para a estrada.

Jack Kerouac, sempre fugiu de definições específicas para o termo beat, mas ao ler um o artigo na revista Esquire se irritou ao encontrar nele seguidas referências às drogas. Motivado, publicou sua versão num artigo chamado "Aftermath: The Philosophy of the Beat Generation", na mesma revista. Nele, Kerouac romantiza sobre a alienação social dos beats originais, tornando-os ainda mais atraentes. Define sua geração como "louca, iluminada, viajando pela América de carona." Kerouac usa muitas expressões e adjetivos e conclui que os beats são belos de uma forma feia, porém graciosa. Ele faz questão de frisar que o termo nada tem a ver com delinqüência juvenil. Beats são pessoas espiritualizadas que não montavam gangues para agredir pessoas, apenas eram andarilhos solitários, porém solidários.


Texto produzido pela aluna Helga Lira de Artiaga